domingo, 29 de julho de 2007

Nada Dura...

Quando criança, admirava as árvores maiores. A mangueira no quintal vizinho, encantava-me com sua robusta folhagem, escondendo entre os ramos e galhos um sabiá teimoso, repetitivo,o sabiá das cinco da tarde que cantava e o eco respondia...Então sentava meu pequeno corpo na sarjeta, cotovelo nos joelhos desnudos e esfolados, queixo apoiado nas mãos e o tempo parava...
Naquele preciso momento, era como se todo o mundo rodasse, as pessoas se movessem, os ponteiros girassem nos mostradores do relógio...mas como também se a mangueira e a criança embevecida se tornassem pontos não mutáveis na natureza, um ponto fixo no complexo das coisas cósmicas, pontos não movente..nem tudo nem nada, nem bem nem mal, nem erro nem verdade, medo ou esperança, acato ou desagravo...nada! Apenas a sensação da infinitude de um momento que eu só saberia finito na idade adulta.
Ilusão! O eco do sabiá não era eco nem nada, era outro sabiá mesmo. E a criança sentada na sarjeta seria desligada de seu momento mágico pelo ralho da mãe, a julgar pelo tom de voz, ou banho ou safanão daqueles.
Pronto! O vento veio, levou embora o sabiá pra outro terreiro, as nuvens mudaram de forma e a finitude fez valer sua inexorabilidade.
A criança cresceu e ficou a certeza: Nada, absolutamente nada é eterno. É o óbvio, mas não sei bem porque essa obviedade conforta. Se a felicidade dura um só momento, a dor também é efêmera."Se o tempo atreve-se a colunas de mármore,quanto mais a corações de cera". Frio e sofrimento hoje...sorriso e sol amanhã. Desavença agora, concórdia logo depois...e depois...Saber disso faz um bem danado à alma, hoje despedaçada...amanhã inteira e plena outra vez.!

Cláudia Maria

sábado, 28 de julho de 2007

Folhas Soltas ao vento

Folhas Soltas ao vento

Aquila e Orítia

Pequena história de um Amor Perdido


Aquila, um belo cavalo cósmico cansado de procurar por Orítia, sua amada, entregara-se à contemplação do universo que se desfazia.
Fora-se a morada que lhes servira de berço e que alimentara com seus fluidos etéreos a paixão que os fizera um só ser.
Ia-se transformando em pontos de luz o mundo que os alimentara.
Fora-se ela, num daqueles pontos, e perdera-se em algum lugar que ele deveria encontrar. Animado pelos sons de uma flauta invisível que lamentava o caos e que lhe pedia a ordem, percebeu sopro sutil que lhe mostrou um caminho, que lhe deu um norte. Triste, sentiu novamente o calor vital a percorrer-lhe as crinas, as belas asas abriram-se e se pôs a voar.
Cavalo Alado e guiado pela felicidade de um reencontro, a viagem o levou a remoto planetinha azul chamado Terra. Parou e observou. Antes de seguir seu caminho, uma reverência ao Universo que o guiara. Encontraria lá, naquele lugar, a amada que perdera?
Invisível aos olhos daqueles que habitavam aquela terra estranha, fazia-se ver apenas a seres especiais que o tornariam conhecido como "Pégasus" e que o integrariam à mitologia.
Era livre como livre era a terra que o acolhia e a suas asas saudosas de amor.
Aqui e ali, pelos prados que ainda se estendiam quase ilimitados, a Natureza soprava-se nos ouvidos canções que o estimulavam a seguir...
Como se o que seguisse utopia fosse. A madrugada, sobretudo, fazia-lhe todos os dias um convite ao reencontro com seu amor perdido. Gotas orvalhadas de luar molhavam seu pêlo sonhador.
Por cada um daqueles pelos que cobriam seu corpo buscador, a seiva vital - ele sabia - era o Amor. Dependia dele controlar seu medo diante da noite. A intensidade das forças cósmicas que o haviam lançado em sua busca servia-lhe sempre como ensinamento: do alto viria sua perseverança.
Enquanto Áquila percorria o mundo com suas asas, em algum lugar Orítia enviava-lhe um pensamento...
Na Solidão da noite eterna, Orítia sonhava, sonhava com um príncipe Alado que se perdera na imensidão estelar..Onde estaria teu sonho alado? Por quais estradas trilharia? Precisava encontrá-lo, pensava
O Universo cantava pra ela, respondendo às suas súplicas, ela que um dia perdera-se na tempestade das ilusões mundanas, agora estava prestes a reencontrar seu igual, alma alada que ficara para trás num Universo distante... Mas agora o sentia perto, bem perto, quase podia ouvir seu respirar e seu coração esperava.
Dos confins do Universo soava um tambor invisível que a convidava para uma dança secreta, uma dança fluida e sensual, pensava nele e dançava, uma leve ritmada dança, e a cada passo flutuava, e ele , seu príncipe , se aproximava...
A magia do reencontro se formara, estava feita! E agora esperava um convite do cosmos, para que se juntasse aquele que tanto almejava , a cada passo que dava , o amor ausente, antes encantado, se materializava diante de teus olhos, mas não podia tocá-lo, apenas olhava e se sabia sua.
Ela sentia que os Dois .. em algum lugar fora do tempo se olhavam, as estrelas tinham por testemunha, as galáxias os rodeavam, e tudo conspirava a seu favor. A cada olhar que trocavam, um perfume emanava de suas almas belas, suave a princípio, mas tornou-se tão devastador que embriagava..e ela soube que era o perfume do Amor Maior, um amor além do tempo e do espaço, além de todas as causas e todas as guerras...além do sorriso e da primavera, do sol, da lua e do mundo . E se deixaram ficar , fundidos um no outro, naquele lugar mágico, mergulhados na Noite Eterna.

Cláudia Maria Rodrigues