Quando criança, admirava as árvores maiores. A mangueira no quintal vizinho, encantava-me com sua robusta folhagem, escondendo entre os ramos e galhos um sabiá teimoso, repetitivo,o sabiá das cinco da tarde que cantava e o eco respondia...Então sentava meu pequeno corpo na sarjeta, cotovelo nos joelhos desnudos e esfolados, queixo apoiado nas mãos e o tempo parava...
Naquele preciso momento, era como se todo o mundo rodasse, as pessoas se movessem, os ponteiros girassem nos mostradores do relógio...mas como também se a mangueira e a criança embevecida se tornassem pontos não mutáveis na natureza, um ponto fixo no complexo das coisas cósmicas, pontos não movente..nem tudo nem nada, nem bem nem mal, nem erro nem verdade, medo ou esperança, acato ou desagravo...nada! Apenas a sensação da infinitude de um momento que eu só saberia finito na idade adulta.
Ilusão! O eco do sabiá não era eco nem nada, era outro sabiá mesmo. E a criança sentada na sarjeta seria desligada de seu momento mágico pelo ralho da mãe, a julgar pelo tom de voz, ou banho ou safanão daqueles.
Pronto! O vento veio, levou embora o sabiá pra outro terreiro, as nuvens mudaram de forma e a finitude fez valer sua inexorabilidade.
A criança cresceu e ficou a certeza: Nada, absolutamente nada é eterno. É o óbvio, mas não sei bem porque essa obviedade conforta. Se a felicidade dura um só momento, a dor também é efêmera."Se o tempo atreve-se a colunas de mármore,quanto mais a corações de cera". Frio e sofrimento hoje...sorriso e sol amanhã. Desavença agora, concórdia logo depois...e depois...Saber disso faz um bem danado à alma, hoje despedaçada...amanhã inteira e plena outra vez.!
Cláudia Maria
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