Dança no Silêncio Cósmico
Lá fora a Lua, envolta em placenta luminosa, crescia, alimentando-se do amor de Aquila e de Orítia. Seria ela a iluminar os sonhos dos amantes? Ou seria o sonho dos amantes a iluminá-la? Embalados pela música da noite - o silêncio - dançavam valsa no éter da madrugada. No céu, um coral de estrelas entoava hino estranho, etéreo, cheio de sustenidos a enchê-los de mil asas. Do espaço mais profundo, lá dos confins do Universo (se é que havia "confins" e limites), Eco da criação fazia-os renascer a cada um daqueles passos.
Havia um chão. Debaixo deles, a Terra os amparava e lhes dava raízes. A dança, feita conjunção de forças cósmicas e telúricas, no entanto, guiava-os levitando a um mundo novo. Viam-se ali, valsando no vazio, a cada um daqueles passos construindo novo mundo, realizando sonhos, tornando palpáveis as mais loucas utopias.
Nos pólos, auroras boreais e austrais iluminavam com matizes ímpares os gelos que já não eram mais tão eternos. Reflexos astrais, os corpos de Aquila e Orítia transmutavam-se a cada instante, fazendo-se reais, tornando o que era potência, ato; o que era intenção, ação; o que era, simplesmente, verbo, carne. Nada os detinha naquele caminho novo, pulsante, cheio de vida e de amor.
Livres. Eram livres na noite nua. Faziam-se crus, ali, diante da Liberdade. A noite era nua e crua. Um sentimento intenso unia-os num só e mesmo ser, alado, feito pássaro divino, criador, transformador. O mundo desenrolava-se a seus pés dançantes, voejantes.
Em metamorfose singular, corpos unos transformavam-se num só sopro de vida. De larvas rastejantes fizeram-se crisálidas coloridas e, disso, borboletas dançantes diante do arco-íris da gênese de novo mundo, melhor, perfeito.
Novos horizontes, um a um, descortinavam-se diante de seus passos a princípios vacilantes. Não... Seria possível? Um caminho de luz deixavam atrás de si; e seres lindos os seguiam, reverentes, como a confirmar seus votos, cercando-os de auréola colorida...
O Sol, radiante porém tímido diante da noite, ouvindo pensamentos, sugeria novos passos iluminantes. Eles pensavam, e sua dança era pensamento que se plasmava em Amor sem fronteiras , fazendo infinito o que antes era finito.
Alheias aquilo tudo que acontecia lá no céu, na Terra crianças brincavam de cabra-cega. Procurando a felicidade umas nas outras rodeavam, sem querer imitando os passos daqueles que lá, tão longe, faziam-se zodíaco e destino.
Porque como as crianças, Aquila e Orítia estavam cegos. E justamente por isso amavam: por não pensar, por brincar, por se fazerem um ao outro crianças aladas.
Aurora de uns, crepúsculo de outros, esse era o ritmo. A dança era giro, era círculo, era vai-e-vem sem fim a levar para sabe-se lá onde sentimentos que despertassem e se transformassem em certezas do coração.
Portador de luz, farol a guiar os navegantes da vida, o Sol se acumpliciava com a Lua. De um lado um; doutro, transformando realidades daqueles que inda dormiam, aguardando o amanhecer, a Lua promovia o despertar das crisálidas dormentes. Acordavam todos, borboletas voando, povoando de novo um mundo antes exausto, e nesse instante um mundo que se fazia novo e se reerguia. E SE FEZ!
Cláudia Maria Rodrigues
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